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Imagine um cliente entrando na sua caixa de e-mails, dizendo que prefere o resultado de uma linha de código ao seu talento de anos. Parece ficção científica? Pois é a nova realidade de ilustradores como Lúcia Lemos, que, aos 30 anos, teve que ouvir de um antigo cliente: “Prefiro o desenho que sai na hora com a IA, em vez de esperar uma semana pelo seu”. Acredite, a coisa não está fácil para quem vive de criar com lápis, papel e horas de estudo.
“Arte rápida e furiosa”
A inteligência artificial generativa, a queridinha do momento, chegou arrebentando e pegando todos os ilustradores de surpresa, como uma nova tendência de moda que ninguém pediu, mas que, de repente, está em todo lugar. Ao contrário da velha guarda dos artistas, que passavam dias (ou até semanas) esculpindo cada detalhe de uma ilustração, as novas máquinas simplesmente jogam dados no ventilador e produzem arte a jato, economizando o tempo do cliente e, claro, o dinheiro que ia para o bolso do ilustrador.
Wagner Loud, um criativo de 33 anos, já sentiu o baque: “Antes, a gente sentava e pensava em uma arte. Agora, senta e joga palavras-chave para a IA.” Sabe aquele jogo de adivinhar a palavra certa? Imagine isso, mas com seu ganha-pão em jogo. A ironia é que, enquanto as IAs estão aprendendo a criar “arte”, os humanos estão se tornando assistentes das máquinas, corrigindo aberrações como personagens com seis dedos ou expressões faciais que fazem você duvidar da sua sanidade.
O dilema dos seis dedos e da criatividade barata
Vamos ser sinceros: a IA pode até ser eficiente, mas “criatividade barata” é o novo slogan desse mercado. E não estou falando só de grana, mas da qualidade mesmo. Afinal, uma IA que comete erros grotescos como um personagem com seis dedos provavelmente não vai substituir Picasso tão cedo. Mas ela não precisa. Só precisa ser “boa o suficiente” para o cliente que prefere pagar menos — ou nada — por algo “parecido”.
Enquanto isso, Lúcia Lemos e outros artistas têm que ralar em feiras de arte, vendendo seus desenhos em forma de adesivos, chaveiros e bottons, para tentar ganhar o suficiente para pagar as contas. A ilustradora lembra com nostalgia dos tempos em que podia contar com uma renda decente dos seus trabalhos encomendados. Agora, ela se pergunta se vai conseguir se sustentar com a renda de feiras independentes, que varia mais do que o humor do algoritmo do Instagram.
Quando a criatividade vira linha de código
Mas a coisa não para por aí. Os ilustradores estão percebendo que suas criações — aquelas em que colocaram coração, alma e talvez até algumas lágrimas — estão sendo usadas para “treinar” as IAs. Sim, aquela arte original e cuidadosamente trabalhada está alimentando um cérebro de silício que, no final das contas, pode acabar tirando o seu trabalho. Como diria Wagner Loud: “Estamos perdendo empregos e tendo nosso trabalho roubado para treinar essas ferramentas.”
E se você acha que os artistas estão só choramingando, pense novamente. O diretor da União Democrática de Artistas Digitais (Unidad), Carlos Ryal, relata que, desde 2024, os cortes em empresas que contratavam ilustradores júnior têm sido mais frequentes do que nunca. Os cargos de entrada praticamente desapareceram, e os profissionais mais experientes estão sendo “incentivados” a se contentar com salários mais baixos. Por quê? Porque sempre tem uma IA prontinha para entregar uma arte “quase boa” em tempo recorde.
A luta pelo reconhecimento (e por um pouco de dignidade)
Diante deste cenário, muitos artistas estão se unindo para exigir uma legislação que proteja seus direitos. Recentemente, Marisa Monte, famosa cantora e compositora, usou sua visibilidade para apoiar a causa dos criadores, pedindo por uma regulamentação que garanta um “ambiente justo e equilibrado para todos”. Imagine, o projeto de lei 2338, que visa regulamentar o uso de IA no Brasil, já foi adiado três vezes — talvez porque regular a criatividade do cérebro de silício não seja tão fácil quanto parece.
Os artistas também têm suas dúvidas: mesmo que as leis exijam que as IAs informem quais conteúdos protegidos estão usando, isso não significa que o criador vai ver a cor do dinheiro. O advogado Allan de Souza explica que, no fim das contas, quem provavelmente será remunerado são os grandes detentores de direitos autorais, como editoras e gravadoras, não o pobre ilustrador que teve seu trabalho “emprestado”.
E quem ganha com isso?
Não pense que é só o artista que sai perdendo nessa história. Wagner Loud aponta que a IA está emburrecendo o gosto estético do consumidor. Afinal, se o padrão passa a ser a arte “feita em minutos”, o que acontece com o olhar crítico, a apreciação pelo detalhe e pela originalidade? Será que estamos todos caminhando para um futuro onde tudo será “bom o suficiente”, mas nunca “excepcional”?
Mas calma, nem tudo está perdido. Alguns especialistas acreditam que a IA pode ser uma aliada na produtividade dos artistas. Segundo Maurício Veneza, ilustrador e conselheiro da Associação de Escritores e Ilustradores Infantil e Juvenil, a tecnologia permite uma maior experimentação em menos tempo. Mas, alerta: o que não pode acontecer é o artista virar apenas um “compilador de obras alheias”.
E agora, IA ou não IA, eis a questão
A solução? Regulamentação e adaptação. A esperança dos artistas é que o PL 2338, ou qualquer outra legislação, finalmente ofereça alguma proteção contra o uso desenfreado de seus trabalhos pelas IAs. E se nada disso der certo? Bem, talvez eles possam se juntar às feiras de adesivos e chaveiros e vender o próprio trabalho direto para aqueles que ainda acreditam na arte feita por humanos.
Enquanto isso, o mercado segue se adaptando. Os artistas sabem que a batalha não é fácil, mas muitos ainda acreditam que, no fim, a verdadeira arte — aquela que toca, que emociona, que faz pensar — não será criada por uma máquina, mas pelo bom e velho talento humano. E que aqueles que sempre gostaram de arte continuarão apoiando artistas reais, que trazem algo novo e inesperado em cada traço.
A arte está morta? Viva a arte!
No fim do dia, os ilustradores estão apenas tentando manter a sua profissão viva em um mundo cada vez mais automatizado. Talvez a IA não mate a arte, mas certamente está mudando as regras do jogo. Como todos os bons artistas sabem, a adaptação é essencial. E quem sabe? Talvez surja um novo movimento artístico chamado “Resistência à IA” — porque nada mais artístico do que lutar pela própria existência.
Por enquanto, a única certeza é que o mundo da ilustração está em um momento de transição. E, como em toda boa história, o final ainda está por ser escrito — talvez por um humano, talvez por uma IA.